domingo, 6 de abril de 2008

Texto nº 3

HOBSBAWM, Eric. A era dos impérios. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988. pp. 29 – 55.

O autor do livro “A era dos impérios”, Eric J. Hobsbawn, começa o primeiro capítulo intitulado “A revolução centenária” falando sobre as mudanças ocorridas no século XIX. Justificando o titulo conferido ao primeiro capítulo do livro, Hobsbawn fala sobre o termo centenário surgido a partir das comemorações pelo centésimo aniversario das Revoluções Americana (1876) e Francesa (1889). O que Hobsbawn busca através desse termo é uma comparação entre os anos de 1880 e 1780.
Partindo de tal comparação, Hobsbawn fala sobre o progresso tecnológico pelo qual o século XIX passou e de inovações tais como a ferrovia que é símbolo desse período e que modificou a paisagem até então existente acelerando o processo de locomoção de pessoas e bens. Ele fala ainda sobre o crescimento demográfico desse período afirmando também que “um planeta ligado cada vez mais estreitamente pelos laços dos deslocamentos de bens e pessoas, de capital e comunicações de produtos materiais e idéias” (pp. 31).
Indo porém de encontro com todo esse progresso, o século XIX também foi um período de intenso crescimento das desigualdades sociais, conforme o próprio autor afirma “em um outro sentido este mundo caminhava para a divisão” (pp. 31). Essas desigualdades geraram termos a partir de divisões estabelecidas economicamente tais como paises de 1º mundo e 2º mundo. Para Hobsbawn, essa diferenciação tem uma de suas principais causa no diferencial tecnológico e que é acentuado tanto economicamente quanto politicamente.
Um ouro importante fator na comparação das diferenças entre paises de 1º mundo e 2º mundo também pode ser encontrada a partir do quesito união, ou seja, enquanto que os países de 1º mundo são unidos pela história devido ao desenvolvimento capitalista, os países de 2º mundo não são unidos seja por sua história cultura ou estrutura social. Segundo Hobsbawn, nem ao menos o quesito pobreza em massa pode ser considerado um fator em comum nos paises de 2º mundo pois riqueza e pobreza são fatores sociais que se aplicam somente a sociedades estratificadas e a economias estruturadas (pp. 33).
Hobsbawn fala sobre as fronteiras entre essas desigualdades e afirma que elas são indefinidas. Ao citar vários exemplos sobre problemas internos tais como divisões sociais (ricos e pobres) dentro da própria Europa, o que Hobsbawn tenta mostrar é que a Europa, apesar de sua importância econômica e de seu desenvolvimento tecnológica, possuía uma “colcha de retalhos” no que diz respeito a diferenças sociais dentro dos próprios países.
Hobsbawn afirma que o século XIX foi o século “mais europeu” que já existiu e que vai existir (pp. 36) e que a Europa possuía uma grande importância para economia mundial e para a sociedade burguesa e, embora a América já despontasse como a próxima potencia, a Europa possuía importância através de suas tecnologias. E não somente nas tecnologias, mas também através da cultura erudita, a Europa também dominou o cenário durante o século XIX e o Novo mundo continuava seu dependente. A supremacia européia acabava por se sobrepor a cultura de qualquer país “conquistado”. Fosse ela tão rica quanto pudesse, de nada adiantava pois estavam a “mercê dos navios que vinham do exterior com carregamentos de bens, homens armados e idéias diante das quais ficavam impotentes e que transformavam seus universos como convinha aos invasores, independente dos sentimentos dos invadidos” (pp. 38).
Errôneo pensar que os paises de 1º e 2º mundo dividiam-se em paises industrializados x paises agrícolas ou civilizações urbanas x civilizações rurais. Os paises de 2º mundo possuíam cidades tão antigas quando as dos paises de 1º mundo, bem como também possuíam países que demograficamente eram tão grandes quanto paises do 1º primeiro mundo. E assim, como os paises de1º mundo conseguiram permanecer agrícola em sua maioria, alguns paises do 2º mundo, apesar de sua pouca infra-estrutura, tentaram criar uma industria, sem falar da industria doméstica, industria essa que logo seria destruída devido às “concorrências das fábricas e da distribuição moderna” (pp 40).
A partir dos anos de 880, nenhum país que não fizesse parte do conjunto dos paises de 1º mundo podia ser considerado industrializado, e é interessante destacar ainda o crescimento das cidades nesse período, ou seja, por volta de 1890 as cidades as cidades européias haviam passado por uma grande urbanização.

Existia, segundo Hobsbawn, um modelo que retratava os países de 1º mundo esse “modelo da nação-Estado liberal-constitucional” não era um desejo somente desses países mas de todos os outros que desejavam segui-lo. No século XIX, ocorre uma adequação do homem europeu, bem como de todo o mundo, a novos padrões ditos modernos “A liberdade e igualdade jurídicas estavam longe de ser incompatíveis com a desigualdade real” (pp. 43). Agora porém, nesse mundo moderno, é o dinheiro guia tudo.
Hobsbawn coloca a importância do quesito alfabetização como mecanismo separador dos países de 1º e 2º mundo. Para ele, os países desenvolvidos possuíam um índice de analfabetismo baixíssimo, ao contrário dos países de 2º mundo, e possuíam uma desvinculação maior da religião, para ele sinônimo de tradicionalismo. Porém, a expressão educação em massa não deve ser confundida com cultura das elites. Essa educação em massa era uma garantia que os países de 1º mundo buscavam promover e supervisionar, característica do mundo moderno.

Segundo Hobsbawn, o século XIX pode ser definido através da palavra mudança e essa palavra tem como sinônimo a palavra avanço, ou seja, progresso “Era na tecnologia e em sua conseqüência mais óbvia, o crescimento da produção material e da comunicação, que o progresso era mais evidente” (pp. 47). E nesse aspecto é possível voltar ao início do texto, quando Hobsbawn fala sobre as características do século XIX e utiliza a ferrovia como exemplo, ele é, sem dúvida, através de sua grandiosidade, literalmente, bem como através da mão de obra necessária, um exemplo de modernidade.
A modernidade, ou melhor, o progresso, trazia novas realidades tais como uma maior nutrição para a população que, na maioria dos locais, não passava mais fome; o aumento da expectativa de vida, mesmo que o declínio da mortalidade infantil ainda estivesse apenas começando. Existia uma maior esperança de vida por parte da população.
Apesar de todos os fatores acima, a idéia de progresso ainda trazia uma certa preocupação com o seu significado. Segundo Hobsbawn, o mundo estava então dividido em dois grupos: um mundo em que o progresso nascera (menor) e outro mundo (maior) em que o progresso era algo trazido de fora por alguns poucos. Porém, o maior dilema do momento a respeito do progresso era aonde essa inovação moderna levaria a humanidade.

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