domingo, 30 de março de 2008

Texto nº 2

FALCON, Francisco. “O capitalismo unifica o mundo” In.: REIS FILHO, Daniel Aarão et alli. O século XX: o tempo das certezas. Rio de Janeiro, Civiliza. pp. 11 – 76.

O autor do texto, Francisco José Calazans Falcon, tem como objetivo, ao desenvolver seu texto, conceituar palavras como capitalismo e mercado. Para tanto o autor percorre, através da história, as raízes do “mercado capitalista” ainda no século XVI, dada as devidas limitações ao termo, até o século XIX e a era do Colonialismo e Anticolonialismo.
Logo no início do seu texto, Falcon explica o sentido dúbio que as palavras capitalismo e mercado podem adquirir devido a vários resquícios que lhes ficaram impregnados.
Ao trabalhar com as noções de capitalismo e mercado, Falcon fala sobre a existência do capitalismo no século XVI – “busca e a realização do lucro através da comercialização de mercadorias” (pp. 16).
Ao começar a delinear seu recorte de estudo, Falcon fala sobre a permanência da história com os olhos centrados na Europa e sobre o período Medieval, a fim de recuperar as relações comerciais anteriores a crise do século XIV: “os cristãos possuíam vagas noções a respeito da existência de outros povos, não propriamente infiéis, como os seguidores de Maomé, mas certamente pagãos ou gentios” (pp. 18).
Na busca pelo desconhecido e dando asas à imaginação, o homem se lança ao mar em busca de caminhos e conquistas. Segundo Falcon, “a construção do mercado internacional pelos europeus teve como ponto de partida um exploração espacial mas não se esgotou aí”.
Para Falcon, seu trabalho teórico está dividido em duas grandes épocas: a pré-capitalista que vai do século XV ao XVIII e a capitalista que vai do século XIX ao XX.. Para estudar esse período é necessário entender as várias variáveis que compõem o cenário mundial para entender o regime econômico vigente.
O chamado Antigo Regime Econômico que caracteriza a primeira fase acima descrita possui, segundo Falcon, três características: 1) predominância da agricultura; 2) Precariedade dos transportes; 3) Industria de bens de consumo. Diante desse quadro, é possível entender um esquema de crise desse Antigo Regime da seguinte forma: devido a uma série de más colheitas, a redução do pão leva a fome que gera mortalidade, as cidades ficam cheias de refugiados que fogem do campo e da fome e a ordem é ameaçada. O tempo dessas crises é variável e em geral não são absorvidas lentamente.
Já no Novo Regime Econômico, típico do capitalismo industrial, possui as seguintes três características: 1) Predomínio da produção industrial; 2) Transportes eficientes o que gera a integração mundial; 3) No lugar das crises de subsistência entram as crises de super produção e a conseqüente baixa dos preços.
Segundo Falcon, a história da constituição do mercado internacional está ligada à expansão européia. Para ele, o Estado monárquico absolutista, de finais do século XVIII, possui um quadro peculiar que define o desenvolvimento mercantil e manufatureiro e o crescimento dos setores burgueses: o absolutismo, para manter a hegemonia aristocrática, favorece o setor manufatureiro e o conseqüente crescimento da burguesia; tal fato leva ao atrito entre aristocracia e burguesia gerando uma crise e a Revolução liberal. Falcon afirma ainda que os estabelecimentos de entrepostos comerciais a partir de companhias de comércio eram organizados quase sempre pelo Estado. Essas visões de características basicamente absolutistas em que o Estado tem estreita vinculação e interesses na economia são características do Antigo Sistema Colonial.
Analisando as estruturas sociais anteriores a desestruturação do Antigo Regime, é possível perceber que o que ocorreu foi o esgotamento das bases que legitimavam o Estado Absolutista, ou seja, a sociedade que anteriormente estava dividida em estamentos e hierarquias agora tinha seus papéis questionados por uma burguesia em busca de status e as novas noções de liberdade, indivíduo e nação.
Falcon afirma que “A história cultural da Europa moderna está intimamente ligada às experiências empíricas e à revolução intelectual, cujas origens se acham na própria expansão européia” (pp. 28). As tecnologias influenciaram as visões de mundo e colocaram em xeque as instituições até então em vigência.
Para conceituar o que ele chama de processo de unificação do mundo, Falcon estabelece os seguintes termos: Capital: Financeiro; Comercial; Industrial / Conjuntura: Revolução comercial (Século XVI); Crise (Século XVII); Prosperidade (Século XVIII); Crise e prosperidade (Século XIX).
Após a Crise do Século XIV e os prejuízos recuperados, ocorreu uma recuperação no Século XV. A partir de então, com a expansão marítima, comercial e colonial, o comércio marca o início do capitalismo.
Através das terras do Novo Mundo, o capital comercial deu um salto. Devido a tal situação, Falcon divide a história do Capitalismo em duas partes: o capitalismo intra-europeu (que predominou até arredores de 1750) e o capitalismo extra-europeu (que predominou até o auge do século XVIII).
Dentro do cenário das grandes navegações e da busca por mercados, começam as buscas de Inglaterra, França, Espanha e Portugal pela influência e o controle de suas regiões. Nessa busca constante, diversos confrontos existiram e muitos saíram mais fortes, porém é necessário citar a grande importância da Holanda no comércio e nas finanças internacionais. Fundado em 1608, o Banco de Amsterdã era então o centro financeiro europeu (pp. 38). Enquanto que Holanda tornou-se aliada da Inglaterra, cada vez mais Inglaterra e França desenvolveram disputas (Século XVIII) e esses conflitos envolveram entrepostos comerciais, rotas e tráficos.
Falcon divide a história do capitalismo oitocentista em duas fases: 1) final do século XVIII até 1870, a chamada “era do capitalismo industrial”; 2) de 1870 a 1914 a chamada “Era do capitalismo monopolista e imperialista”.
A chamada Revolução Industrial trouxe com ela diversas mudanças no cenário europeu, a industrialização trouxe novos personagens, os proletários. A partir dessas mudanças sociais, a presença de sociólogos surge nesse momento e a partir deles o chamado socialismo utópico.
Em meio a esse contexto europeu, surgem ainda os movimentos nacionalistas e os projetos de unificação: a formação dos Estados-Nações. Os debates políticos do momento, segundo falcon, ‘giram em torno da ampliação do direito de voto, das liberdades sindicais, começando pelo direito de greve e, em alguns países, da conquista de “direitos sociais”’ (pp. 49). Ainda nesse momento, a noção de nacionalismo cria conceitos xenofóbicos que acabam por justificar a “paz armada”. Noções de superioridade cultural (Belle Époque), de superioridade européia, os avanços tecnológicos e as mais diversas teorias raciais acabavam por contribuir com o cenário de imperialismo que se configurava naquele momento.
Para Falcon, é de suma importância estudar a burguesia desse momento de revoluções, bem como a expansão de suas transformações.
O estudo do capitalismo do século XIX pode ser visto como uma continuidade dos períodos anteriores ou como um momento de ruptura com o passado. Esse capitalismo possui problemas e personagens importantes para a sua expansão com o os exploradores, os missionários e os militares, além dos militares.
Nesse momento do Século XIX, o que existe no cenário econômico mundial é a noção de colonialismo e a personagem principal desse contexto é a superpotência inglesa. Muito forte e muito além das outras potências mundiais, a Inglaterra proclamou sua doutrina política chamada de “anticolonialismo” que consistia na devolução das colônias e a abstenção de novas conquistas. A principal bandeira do anticolonialismo era o “livre-câmbio”. Falcon afirma porém que o que não era dito nesse momento (o chamado “não dito”) era o fato de que a Inglaterra, devido a sua hegemonia econômica muito além das outras potências, não possuiria concorrentes no mercado internacional e continuaria a ser a principal beneficiária no comércio internacional.
Sobre essas colônias presentes no cenário geopolítico mundial, Falcon destaca e caracteriza alguns dos principais dividindo-os em dois grupos: as colônias de povoamento e as colônias de exploração. São citadas as seguintes regiões: Império Otomano, Egito, Argélia, África Ocidental Atlântica, África do Sul, Índia, Sudeste da Ásia, Extremo Oriente e as Américas.

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