domingo, 23 de março de 2008

Texto nº 1

BERMAN, Marshall. Tudo que é sólido desmancha no ar a aventura da modernidade. São Paulo, Companhia de Bolso, 2007. Introdução: “Modernidade – ontem, hoje, amanhã” p.24-49.

O livro de Marshall Berman pretende analisar através de uma investigação história as sociedades dos séculos XIX e XX por meio da análise dos sentidos das palavras Modernidade e Modernismo inseridas no contexto das sociedades ditas como tal.
Em um período relativamente curto da história, a modernidade englobou imensos avanços em prol da humanidade e a rapidez do progresso tornou-se um desafio no controle de pessoas e instituições.
Para estudar essa história da modernidade, Marshall Berman propõe dividir esse período em três fases. São elas:

· 1ª Fase: Início do século XVI até o fim do século XVIII – Segundo Berman, nesse início a sociedade se vê como moderna e busca diretrizes do que vem a ser essa nova experiência;
· 2ª Fase: Onda revolucionária de 1790 – Momento de grande turbulência e de sentimentos revolucionários conseqüência da Revolução Francesa, porém o homem moderno desse momento ainda consegue viver materialmente e espiritualmente, por esse motivo ainda não é completo por inteiro;
· 3ª Fase: Século XX – A modernização engloba todo o mundo através de sua cultura mundial.
Para exemplificar esse momento inicial do modernismo, Berman utiliza como exemplo a novela romântica de Jean-Jacques Rousseau “A nova Heloísa”, que narra as sensações e dificuldades de adaptação desse novo período para o homem. Um turbilhão de sentimentos, propostas e experiências são rapidamente apresentados e as noções e princípios que até então regiam o homem são colocados à prova.

Ao falar do homem do século XIX, Berman afirma que os modernistas desse momento atacam o ambiente da modernidade, ambiente esse que pode ser exemplificado através da nova paisagem que a modernidade constrói através das fábricas, ferrovias e máquinas. Porém mesmo se esforçando para criticar essas mudanças o homem sente-se a vontade em meio ao mundo moderno e para exemplificar esse período utiliza personagens importantes como Nietzsche e Marx.
Após caracterizar e exemplificar os períodos que entende como modernos, Marshall Berman trata um pouco sobre as características do homem moderno presente no século XX. Ele fala da individualização cada vez maior desse homem moderno e da sua necessidade de um conjunto de leis e regras até mesmo para sua sobrevivência como tal.
Berman afirma ainda através de Nietzsche que o homem moderno não é capaz de ser feliz, pois “o único estímulo que efetivamente nos comove é o infinitivo, o incomensurável” (página 33).
Berman questiona em seu texto introdutório o que aconteceu ao modernismo que existia no século XIX mas que se ajustou ao século XX. Ele lista os grandes avanços na arte e no pensamento moderno, mas que parecem ser vazios de sentido pois o pensamento do homem do século XX acerca da modernidade parece “ter estagnado e regredido” (página 35). Enquanto que os pensadores do século XIX eram inimigos e esperançosos da vida moderna e possuíam ideais de luta e mudança, os pensadores do século XX apresentam-se sem reação diante dos acontecimentos. A modernidade do século XX ou é vista cegamente - sem qualquer crítica - ou torna-se indiferente para o homem moderno. Tal modernidade é tida como imutável, um canal de separação com o passado.
A imagem dos futuristas e seus sonhos de tecnologia moderna para a criação de um mundo novo também são citados por Marshall Berman na introdução do livro, e citações como “guerra, a única higiene do mundo” de 1914 são lembradas. Em seu namoro com as máquinas e a separação cada vez maior do ser humano, após a Primeira Guerra Mundial e a Segunda Guerra Mundial a força da ciência e da tecnologia sustenta os modelos de modernização. O que se tem agora então é a tecnologia condicionando a vida do homem, tecnologia esse que foi criada pelo próprio homem com o objetivo de facilitar sua vida compreendendo “seu destino” e combatendo-o (página 39).
A visão que surge do século XX, segundo Berman, é composta pelos chamados “homem-massa” (página 40). Essas massas não possuem identidade ou personalidade, suas idéias e problemas não são deles mas são programadas através de um controle maior que tem como função exatamente produzir os desejos que o sistema social é capaz de satisfazer. Surgem então massas perdidas no próprio ego e ocupadas em suas preocupações como carro, casa, roupas... Segundo Berman, a frase do mundo moderno é “a modernidade é constituída por suas máquinas, das quais os homens e mulheres modernos não passam de reproduções mecânicas”.
A partir dos anos de 1960, Marshall Berman divide o modernismo em três tendências a partir de suas atitudes com relação a vida moderna. São elas:

· Afirmativo: Desenvolvida nos anos 1960, tem como objetivo “despertar para a verdadeira vida de que vivemos” (página 44). Essa visão afirmativa também se autodesigna de “pós-modernista”. Utilizou sua capacidade imaginativa em seus objetivos, porém se esqueceu do seu lado crítico ao não esclarecer os limites do artista moderno em ver o mundo;
· Negativo: Segundo Berman, esse estilo busca a destruição dos valores existentes na sociedade, porém não se preocupa em reconstruí-los;
· Ausente: Para esse grupo, a única preocupação da arte modernista deveria ser com a própria arte. Segundo Berman então o modernismo tornar-se-ia a procura de uma “arte-objeto pura” (página 42). Esse tipo de arte porém não se enraizou, pois é condenada a morte o tipo de arte que não possui sentimentos pessoais.

Segundo Berman, existiram tentativas de criação de um mundo estruturalista e que esquecesse questões sobre auto-identidade, bem como também existiram aqueles que adotaram o pós-modernismo que cultivava a ignorância da história e da cultura para expressar-se através de sentimentos humanos. Ainda nesse sentido, também existiram os cientistas sociais que, ao tentarem construir um modelo de modernidade, acabaram por isolar componentes de modernidade como industrialização, construção, urbanização...
O auge do problema da modernidade surgiu nos anos 1970, com a destruição do espaço público e o surgimento de grupos menores ligados por interesses privados. Segundo Marshall Berman, Michel Foucault foi o único escritor da década passada que realmente fez algo sobre a modernidade. Segundo Foucault, não é possível a idéia de liberdade para a humanidade moderna. O sentimento de cárcere que Foucault apresenta tenta exprimir a sociedade moderna para tentar explicar através da história “o sentimento de passividade e desesperança que tomou conta de tantos de nós nos anos 1970” (página 47).
Para terminar a introdução de seu livro, Marshall Berman termina colocando a necessidade da volta ao passado em busca das raízes da modernidade, local onde tudo começou, para então crescer de forma saudável. Ele afirma ainda a necessidade de uma busca em grupo, com o público, o que leva ao conhecimento e conseqüente respeito às diferenças.

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