domingo, 13 de abril de 2008

Texto nº 4

HOBSBAWM, Eric. A era dos impérios. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988. pp. 57 – 85.

Eric Hobsbawn começa o capítulo II do seu livro “A era dos impérios” falando sobre a economia mundial da década de 80 do século XIX. O período do ano de 1889 conheceu uma Depressão em escala mundial.
A economia capitalista não parava de crescer nesse momento. O crescimento do comercio internacional era visto a passos largos e nessa mesma época ocorria um grande crescimento do comercio internacional da indústria americana, bem como a revolução industrial em paises como a Rússia e a Suécia. A preocupação existente nesse momento relativa à Depressão de 1889 era não sobre a produção, mas sobre a lucratividade.
A agricultura foi a maior vítima da perda de lucros. Sua produção havia aumentado grandemente com os anos e agora, devido à crise, abarrotava os mercados. O que ocorreu foi a queda dos preços, bom para o comprador mas péssimo para os agricultores que ainda representavam um grande número de pessoas, mesmo nos paises industrializados, com exceção da Inglaterra. Muitos camponeses se revoltaram com a crise dos campos e medidas foram tomadas pelos governantes em favor de seus países, os que não possuíam mais camponeses ou necessitavam tanto dos campos como a Inglaterra deixaram essa canal da economia atrofiar, outros paises como EUA ou França adotaram medidas alfandegárias para preservar o produto interno. Com os agricultores também ocorreram mudanças e tentativas de sobrevivência a crise: muitos emigraram e outros formaram cooperativas fornecedoras de empréstimos.
Ocorreu grande dificuldade com os custos de produção, pois eles eram mais estáveis que os preços. A questão da crise dos metais Ouro e Prata também piorava a situação pois eles eram a base da moeda mundial e quando começou a ocorrer uma disparidade entre preços, as transações comerciais entre os países que tinham moeda no padrão de metais preciosos diferentes tornaram-se mais complicadas. O conhecido episódio da Depressão “fechou a longa era de liberalismo econômico” (pp. 63).
A atitude dos mercados mundiais de proteção interna através de tarifas alfandegárias não incluiu a Inglaterra, essa logo se colocou a favor do comércio livre e irrestrito. Essa lógica comercial da Grã-Bretanha pode ser facilmente entendida devido ao fato de que era a maior exportadora de produtos industrializados da época, mas também era o maior mercado comprador das exportações de produtos primários do mundo e devido a esse fato era indispensável o livre comércio para que os paises pudessem oferecer seus produtos primários a Grã-bretanha e assim recebessem as manufaturas inglesas.
Os países de 3º mundo possuíam suas economias baseadas nos países de 1º mundo, ou seja, elas eram produtoras dos produtos primários para o mercado mundial composto pelos Estados metropolitanos que tinham como defender suas economias (“Economias-nacionais”).
Essas “Economias-nacionais” acabaram por se tornarem também “economias-rivais”, pois os ganhos de um era visto como prejudicial ao outro. O que foi provado é que o demasiado protecionismo era prejudicial para o crescimento econômico e como resultado dessas disputas são apresentadas as duas guerras mundiais do Século XX.
As tentativas de protecionismos nos paises de 1º mundo foram, em gral, válidas. O protecionismo agrícola funcionou em alguns países e em outros não, já o protecionismo industrial ajudou no crescimento da industria nacional. Porém, outro resultado das tentativas de proteção, neste caso mais instintivo, da economia nacional são os estilos globais chamados “trustes” e “administração científica”, ambos tinham como função “ampliar as margens de lucro, comprimidas pela concorrência e pela queda de preços” (pp. 69). Hobsbawn afirma que “o cartel avançou às custas da concorrência de mercado, as sociedades anônimas às custas das firmas privadas, as grandes empresas comerciais e industriais às custas das menores; e que essa concentração implicou uma tendência ao oligopólio” (pp. 71).
A Administração Científica pode ser vista como filha da Grande Depressão. Ela resultou da busca por uma forma mais “racional” de controlar as grandes empresas e maximizar os lucros. Também conhecido como “Taylorismo” o método criado tinha como objetivo fazer com que os operários trabalhassem mais. Para tal objetivo eram necessários os seguintes procedimento:
1) Isolar cada empregado em seu grupo de trabalho e entregar o controle desse grupo a um agente que conduzia o que os operários deveriam fazer;
2) Produzir uma divisão sistemática dos processos de forma cronometradas;
3) Sistema de vários pagamentos de salário para incentivar o operário a produzir mais.
Esse método começou a ser utilizado efetivamente após a 1ª Guerra Mundial (1918) e tornou-se título para maximização da produção.

O período de vai de 1890 à Grande Guerra foi um período que, apesar da depressão, soou com um ar de prosperidade. A Alemanha, nesse período, com sua população muito maior que a inglesa, o que não tira seu mérito, nos 30 anos anteriores a 1913 passou de menos da metade do valor da Grã-Bretanha para superior a ela. As exportações da Alemanha findaram por ultrapassar as exportações da Grã-Bretanha.
O que Hobsbawn enfatiza no seu texto é o motivo pelo qual esse período pré 1ª Guerra mundial possuiu uma economia tão dinâmica e, segundo ele, a resposta está nos “paises industrializados e em vias de industrialização” (pp. 77).
Os paises em desenvolvimento agora estavam formando imensos grupos de potencial produtivo e que se estendiam no crescimento da economia mundial. Os centros industrializados do mundo agora havia aumentado e aos invés de 4 a 7 países controlando a economia mundial, participavam agora dessa liderança também paises como a Holanda, Hungria, Japão e outros, todos com um grande número de pessoas que cada vez mais viviam em um mundo consumidor, com necessidade de compra, e cada vez menos dependente da economia rural tradicional.

Hobsbawn sintetiza o que foi a Economia mundial da Era dos Impérios a partir de alguns pontos.
1) A Era teve uma economia cuja base geográfica foi muito mais ampliada do que antes. Segundo o autor, “A economia da Era dos Impérios foi aquela em que Baku (no Azerbaijão) e a bacia do Donets (na Ucrânia) foram integradas à geografia industrial” (pp. 79). A economia agora era mais plural, essa Era dos Impérios foi marcada pela competitividade e rivalidade entre os Estados e as relações entre paises desenvolvidos e subdesenvolvidos foi complexada.
2) A Grã-Bretanha continuou a ser dominante no mercado mundial de capitais. Segundo Hobsbawn, “A Grã-Bretanha, sozinha, restabelecia um equilíbrio global, pois importava mais bens manufaturados de seus rivais, exportava seus produtos industriais para o mundo dependente, mas principalmente obtinha rendimentos invisíveis de vulto, provenientes tanto de seus serviços comerciais internacionais (...) como da renda gerada pelos enormes investimentos no exterior do maior credor mundial”. (pp. 81)
3) A revolução tecnológica em que podem ser lembradas tanto inovações vistas como aperfeiçoamentos da Primeira revolução industrial, bem como as inovações que acabaram por facilitar a vida do homem no seu dia-a-dia.
4) A transformação da empresa capitalista em sua estrutura segundo um modelo mais prático e de aumento da produção.
5) A transformação dos produtos do mercado e do mercado consumidor que agora compravam mais e os mais diversos produtos. Ocorreu um crescimento das classes consumidoras, criação de produtos ligados ao mercado de massa.
6) Crescimento do setor terciário da economia, tanto no público como no privado.
7) Crescimento do papel do governo e do setor público. Avanço do “coletivismo”, o que significa sacrificar a “boa e vigorosa iniciativa individual ou voluntária” (pp. 83).
Hobsbawn termina o capítulo II do seu livro falando sobre o sentimento de êxito que existia naquele momento. O sentimento de prosperidade atingia até mesmo a classe trabalhadora que se beneficiavam com a expansão econômica e a oferta de emprego não especializado. Porém, segundo Hobsbawn “as mesmas tendências da economia pré-1914, que tornaram a era tão dourada para as classes médias, empurraram-na à guerra mundial, à revolução e aos distúrbios, excluindo a hipótese de uma volta ao paraíso perdido” (pp. 85).

domingo, 6 de abril de 2008

Texto nº 3

HOBSBAWM, Eric. A era dos impérios. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988. pp. 29 – 55.

O autor do livro “A era dos impérios”, Eric J. Hobsbawn, começa o primeiro capítulo intitulado “A revolução centenária” falando sobre as mudanças ocorridas no século XIX. Justificando o titulo conferido ao primeiro capítulo do livro, Hobsbawn fala sobre o termo centenário surgido a partir das comemorações pelo centésimo aniversario das Revoluções Americana (1876) e Francesa (1889). O que Hobsbawn busca através desse termo é uma comparação entre os anos de 1880 e 1780.
Partindo de tal comparação, Hobsbawn fala sobre o progresso tecnológico pelo qual o século XIX passou e de inovações tais como a ferrovia que é símbolo desse período e que modificou a paisagem até então existente acelerando o processo de locomoção de pessoas e bens. Ele fala ainda sobre o crescimento demográfico desse período afirmando também que “um planeta ligado cada vez mais estreitamente pelos laços dos deslocamentos de bens e pessoas, de capital e comunicações de produtos materiais e idéias” (pp. 31).
Indo porém de encontro com todo esse progresso, o século XIX também foi um período de intenso crescimento das desigualdades sociais, conforme o próprio autor afirma “em um outro sentido este mundo caminhava para a divisão” (pp. 31). Essas desigualdades geraram termos a partir de divisões estabelecidas economicamente tais como paises de 1º mundo e 2º mundo. Para Hobsbawn, essa diferenciação tem uma de suas principais causa no diferencial tecnológico e que é acentuado tanto economicamente quanto politicamente.
Um ouro importante fator na comparação das diferenças entre paises de 1º mundo e 2º mundo também pode ser encontrada a partir do quesito união, ou seja, enquanto que os países de 1º mundo são unidos pela história devido ao desenvolvimento capitalista, os países de 2º mundo não são unidos seja por sua história cultura ou estrutura social. Segundo Hobsbawn, nem ao menos o quesito pobreza em massa pode ser considerado um fator em comum nos paises de 2º mundo pois riqueza e pobreza são fatores sociais que se aplicam somente a sociedades estratificadas e a economias estruturadas (pp. 33).
Hobsbawn fala sobre as fronteiras entre essas desigualdades e afirma que elas são indefinidas. Ao citar vários exemplos sobre problemas internos tais como divisões sociais (ricos e pobres) dentro da própria Europa, o que Hobsbawn tenta mostrar é que a Europa, apesar de sua importância econômica e de seu desenvolvimento tecnológica, possuía uma “colcha de retalhos” no que diz respeito a diferenças sociais dentro dos próprios países.
Hobsbawn afirma que o século XIX foi o século “mais europeu” que já existiu e que vai existir (pp. 36) e que a Europa possuía uma grande importância para economia mundial e para a sociedade burguesa e, embora a América já despontasse como a próxima potencia, a Europa possuía importância através de suas tecnologias. E não somente nas tecnologias, mas também através da cultura erudita, a Europa também dominou o cenário durante o século XIX e o Novo mundo continuava seu dependente. A supremacia européia acabava por se sobrepor a cultura de qualquer país “conquistado”. Fosse ela tão rica quanto pudesse, de nada adiantava pois estavam a “mercê dos navios que vinham do exterior com carregamentos de bens, homens armados e idéias diante das quais ficavam impotentes e que transformavam seus universos como convinha aos invasores, independente dos sentimentos dos invadidos” (pp. 38).
Errôneo pensar que os paises de 1º e 2º mundo dividiam-se em paises industrializados x paises agrícolas ou civilizações urbanas x civilizações rurais. Os paises de 2º mundo possuíam cidades tão antigas quando as dos paises de 1º mundo, bem como também possuíam países que demograficamente eram tão grandes quanto paises do 1º primeiro mundo. E assim, como os paises de1º mundo conseguiram permanecer agrícola em sua maioria, alguns paises do 2º mundo, apesar de sua pouca infra-estrutura, tentaram criar uma industria, sem falar da industria doméstica, industria essa que logo seria destruída devido às “concorrências das fábricas e da distribuição moderna” (pp 40).
A partir dos anos de 880, nenhum país que não fizesse parte do conjunto dos paises de 1º mundo podia ser considerado industrializado, e é interessante destacar ainda o crescimento das cidades nesse período, ou seja, por volta de 1890 as cidades as cidades européias haviam passado por uma grande urbanização.

Existia, segundo Hobsbawn, um modelo que retratava os países de 1º mundo esse “modelo da nação-Estado liberal-constitucional” não era um desejo somente desses países mas de todos os outros que desejavam segui-lo. No século XIX, ocorre uma adequação do homem europeu, bem como de todo o mundo, a novos padrões ditos modernos “A liberdade e igualdade jurídicas estavam longe de ser incompatíveis com a desigualdade real” (pp. 43). Agora porém, nesse mundo moderno, é o dinheiro guia tudo.
Hobsbawn coloca a importância do quesito alfabetização como mecanismo separador dos países de 1º e 2º mundo. Para ele, os países desenvolvidos possuíam um índice de analfabetismo baixíssimo, ao contrário dos países de 2º mundo, e possuíam uma desvinculação maior da religião, para ele sinônimo de tradicionalismo. Porém, a expressão educação em massa não deve ser confundida com cultura das elites. Essa educação em massa era uma garantia que os países de 1º mundo buscavam promover e supervisionar, característica do mundo moderno.

Segundo Hobsbawn, o século XIX pode ser definido através da palavra mudança e essa palavra tem como sinônimo a palavra avanço, ou seja, progresso “Era na tecnologia e em sua conseqüência mais óbvia, o crescimento da produção material e da comunicação, que o progresso era mais evidente” (pp. 47). E nesse aspecto é possível voltar ao início do texto, quando Hobsbawn fala sobre as características do século XIX e utiliza a ferrovia como exemplo, ele é, sem dúvida, através de sua grandiosidade, literalmente, bem como através da mão de obra necessária, um exemplo de modernidade.
A modernidade, ou melhor, o progresso, trazia novas realidades tais como uma maior nutrição para a população que, na maioria dos locais, não passava mais fome; o aumento da expectativa de vida, mesmo que o declínio da mortalidade infantil ainda estivesse apenas começando. Existia uma maior esperança de vida por parte da população.
Apesar de todos os fatores acima, a idéia de progresso ainda trazia uma certa preocupação com o seu significado. Segundo Hobsbawn, o mundo estava então dividido em dois grupos: um mundo em que o progresso nascera (menor) e outro mundo (maior) em que o progresso era algo trazido de fora por alguns poucos. Porém, o maior dilema do momento a respeito do progresso era aonde essa inovação moderna levaria a humanidade.

domingo, 30 de março de 2008

Texto nº 2

FALCON, Francisco. “O capitalismo unifica o mundo” In.: REIS FILHO, Daniel Aarão et alli. O século XX: o tempo das certezas. Rio de Janeiro, Civiliza. pp. 11 – 76.

O autor do texto, Francisco José Calazans Falcon, tem como objetivo, ao desenvolver seu texto, conceituar palavras como capitalismo e mercado. Para tanto o autor percorre, através da história, as raízes do “mercado capitalista” ainda no século XVI, dada as devidas limitações ao termo, até o século XIX e a era do Colonialismo e Anticolonialismo.
Logo no início do seu texto, Falcon explica o sentido dúbio que as palavras capitalismo e mercado podem adquirir devido a vários resquícios que lhes ficaram impregnados.
Ao trabalhar com as noções de capitalismo e mercado, Falcon fala sobre a existência do capitalismo no século XVI – “busca e a realização do lucro através da comercialização de mercadorias” (pp. 16).
Ao começar a delinear seu recorte de estudo, Falcon fala sobre a permanência da história com os olhos centrados na Europa e sobre o período Medieval, a fim de recuperar as relações comerciais anteriores a crise do século XIV: “os cristãos possuíam vagas noções a respeito da existência de outros povos, não propriamente infiéis, como os seguidores de Maomé, mas certamente pagãos ou gentios” (pp. 18).
Na busca pelo desconhecido e dando asas à imaginação, o homem se lança ao mar em busca de caminhos e conquistas. Segundo Falcon, “a construção do mercado internacional pelos europeus teve como ponto de partida um exploração espacial mas não se esgotou aí”.
Para Falcon, seu trabalho teórico está dividido em duas grandes épocas: a pré-capitalista que vai do século XV ao XVIII e a capitalista que vai do século XIX ao XX.. Para estudar esse período é necessário entender as várias variáveis que compõem o cenário mundial para entender o regime econômico vigente.
O chamado Antigo Regime Econômico que caracteriza a primeira fase acima descrita possui, segundo Falcon, três características: 1) predominância da agricultura; 2) Precariedade dos transportes; 3) Industria de bens de consumo. Diante desse quadro, é possível entender um esquema de crise desse Antigo Regime da seguinte forma: devido a uma série de más colheitas, a redução do pão leva a fome que gera mortalidade, as cidades ficam cheias de refugiados que fogem do campo e da fome e a ordem é ameaçada. O tempo dessas crises é variável e em geral não são absorvidas lentamente.
Já no Novo Regime Econômico, típico do capitalismo industrial, possui as seguintes três características: 1) Predomínio da produção industrial; 2) Transportes eficientes o que gera a integração mundial; 3) No lugar das crises de subsistência entram as crises de super produção e a conseqüente baixa dos preços.
Segundo Falcon, a história da constituição do mercado internacional está ligada à expansão européia. Para ele, o Estado monárquico absolutista, de finais do século XVIII, possui um quadro peculiar que define o desenvolvimento mercantil e manufatureiro e o crescimento dos setores burgueses: o absolutismo, para manter a hegemonia aristocrática, favorece o setor manufatureiro e o conseqüente crescimento da burguesia; tal fato leva ao atrito entre aristocracia e burguesia gerando uma crise e a Revolução liberal. Falcon afirma ainda que os estabelecimentos de entrepostos comerciais a partir de companhias de comércio eram organizados quase sempre pelo Estado. Essas visões de características basicamente absolutistas em que o Estado tem estreita vinculação e interesses na economia são características do Antigo Sistema Colonial.
Analisando as estruturas sociais anteriores a desestruturação do Antigo Regime, é possível perceber que o que ocorreu foi o esgotamento das bases que legitimavam o Estado Absolutista, ou seja, a sociedade que anteriormente estava dividida em estamentos e hierarquias agora tinha seus papéis questionados por uma burguesia em busca de status e as novas noções de liberdade, indivíduo e nação.
Falcon afirma que “A história cultural da Europa moderna está intimamente ligada às experiências empíricas e à revolução intelectual, cujas origens se acham na própria expansão européia” (pp. 28). As tecnologias influenciaram as visões de mundo e colocaram em xeque as instituições até então em vigência.
Para conceituar o que ele chama de processo de unificação do mundo, Falcon estabelece os seguintes termos: Capital: Financeiro; Comercial; Industrial / Conjuntura: Revolução comercial (Século XVI); Crise (Século XVII); Prosperidade (Século XVIII); Crise e prosperidade (Século XIX).
Após a Crise do Século XIV e os prejuízos recuperados, ocorreu uma recuperação no Século XV. A partir de então, com a expansão marítima, comercial e colonial, o comércio marca o início do capitalismo.
Através das terras do Novo Mundo, o capital comercial deu um salto. Devido a tal situação, Falcon divide a história do Capitalismo em duas partes: o capitalismo intra-europeu (que predominou até arredores de 1750) e o capitalismo extra-europeu (que predominou até o auge do século XVIII).
Dentro do cenário das grandes navegações e da busca por mercados, começam as buscas de Inglaterra, França, Espanha e Portugal pela influência e o controle de suas regiões. Nessa busca constante, diversos confrontos existiram e muitos saíram mais fortes, porém é necessário citar a grande importância da Holanda no comércio e nas finanças internacionais. Fundado em 1608, o Banco de Amsterdã era então o centro financeiro europeu (pp. 38). Enquanto que Holanda tornou-se aliada da Inglaterra, cada vez mais Inglaterra e França desenvolveram disputas (Século XVIII) e esses conflitos envolveram entrepostos comerciais, rotas e tráficos.
Falcon divide a história do capitalismo oitocentista em duas fases: 1) final do século XVIII até 1870, a chamada “era do capitalismo industrial”; 2) de 1870 a 1914 a chamada “Era do capitalismo monopolista e imperialista”.
A chamada Revolução Industrial trouxe com ela diversas mudanças no cenário europeu, a industrialização trouxe novos personagens, os proletários. A partir dessas mudanças sociais, a presença de sociólogos surge nesse momento e a partir deles o chamado socialismo utópico.
Em meio a esse contexto europeu, surgem ainda os movimentos nacionalistas e os projetos de unificação: a formação dos Estados-Nações. Os debates políticos do momento, segundo falcon, ‘giram em torno da ampliação do direito de voto, das liberdades sindicais, começando pelo direito de greve e, em alguns países, da conquista de “direitos sociais”’ (pp. 49). Ainda nesse momento, a noção de nacionalismo cria conceitos xenofóbicos que acabam por justificar a “paz armada”. Noções de superioridade cultural (Belle Époque), de superioridade européia, os avanços tecnológicos e as mais diversas teorias raciais acabavam por contribuir com o cenário de imperialismo que se configurava naquele momento.
Para Falcon, é de suma importância estudar a burguesia desse momento de revoluções, bem como a expansão de suas transformações.
O estudo do capitalismo do século XIX pode ser visto como uma continuidade dos períodos anteriores ou como um momento de ruptura com o passado. Esse capitalismo possui problemas e personagens importantes para a sua expansão com o os exploradores, os missionários e os militares, além dos militares.
Nesse momento do Século XIX, o que existe no cenário econômico mundial é a noção de colonialismo e a personagem principal desse contexto é a superpotência inglesa. Muito forte e muito além das outras potências mundiais, a Inglaterra proclamou sua doutrina política chamada de “anticolonialismo” que consistia na devolução das colônias e a abstenção de novas conquistas. A principal bandeira do anticolonialismo era o “livre-câmbio”. Falcon afirma porém que o que não era dito nesse momento (o chamado “não dito”) era o fato de que a Inglaterra, devido a sua hegemonia econômica muito além das outras potências, não possuiria concorrentes no mercado internacional e continuaria a ser a principal beneficiária no comércio internacional.
Sobre essas colônias presentes no cenário geopolítico mundial, Falcon destaca e caracteriza alguns dos principais dividindo-os em dois grupos: as colônias de povoamento e as colônias de exploração. São citadas as seguintes regiões: Império Otomano, Egito, Argélia, África Ocidental Atlântica, África do Sul, Índia, Sudeste da Ásia, Extremo Oriente e as Américas.

domingo, 23 de março de 2008

Texto nº 1

BERMAN, Marshall. Tudo que é sólido desmancha no ar a aventura da modernidade. São Paulo, Companhia de Bolso, 2007. Introdução: “Modernidade – ontem, hoje, amanhã” p.24-49.

O livro de Marshall Berman pretende analisar através de uma investigação história as sociedades dos séculos XIX e XX por meio da análise dos sentidos das palavras Modernidade e Modernismo inseridas no contexto das sociedades ditas como tal.
Em um período relativamente curto da história, a modernidade englobou imensos avanços em prol da humanidade e a rapidez do progresso tornou-se um desafio no controle de pessoas e instituições.
Para estudar essa história da modernidade, Marshall Berman propõe dividir esse período em três fases. São elas:

· 1ª Fase: Início do século XVI até o fim do século XVIII – Segundo Berman, nesse início a sociedade se vê como moderna e busca diretrizes do que vem a ser essa nova experiência;
· 2ª Fase: Onda revolucionária de 1790 – Momento de grande turbulência e de sentimentos revolucionários conseqüência da Revolução Francesa, porém o homem moderno desse momento ainda consegue viver materialmente e espiritualmente, por esse motivo ainda não é completo por inteiro;
· 3ª Fase: Século XX – A modernização engloba todo o mundo através de sua cultura mundial.
Para exemplificar esse momento inicial do modernismo, Berman utiliza como exemplo a novela romântica de Jean-Jacques Rousseau “A nova Heloísa”, que narra as sensações e dificuldades de adaptação desse novo período para o homem. Um turbilhão de sentimentos, propostas e experiências são rapidamente apresentados e as noções e princípios que até então regiam o homem são colocados à prova.

Ao falar do homem do século XIX, Berman afirma que os modernistas desse momento atacam o ambiente da modernidade, ambiente esse que pode ser exemplificado através da nova paisagem que a modernidade constrói através das fábricas, ferrovias e máquinas. Porém mesmo se esforçando para criticar essas mudanças o homem sente-se a vontade em meio ao mundo moderno e para exemplificar esse período utiliza personagens importantes como Nietzsche e Marx.
Após caracterizar e exemplificar os períodos que entende como modernos, Marshall Berman trata um pouco sobre as características do homem moderno presente no século XX. Ele fala da individualização cada vez maior desse homem moderno e da sua necessidade de um conjunto de leis e regras até mesmo para sua sobrevivência como tal.
Berman afirma ainda através de Nietzsche que o homem moderno não é capaz de ser feliz, pois “o único estímulo que efetivamente nos comove é o infinitivo, o incomensurável” (página 33).
Berman questiona em seu texto introdutório o que aconteceu ao modernismo que existia no século XIX mas que se ajustou ao século XX. Ele lista os grandes avanços na arte e no pensamento moderno, mas que parecem ser vazios de sentido pois o pensamento do homem do século XX acerca da modernidade parece “ter estagnado e regredido” (página 35). Enquanto que os pensadores do século XIX eram inimigos e esperançosos da vida moderna e possuíam ideais de luta e mudança, os pensadores do século XX apresentam-se sem reação diante dos acontecimentos. A modernidade do século XX ou é vista cegamente - sem qualquer crítica - ou torna-se indiferente para o homem moderno. Tal modernidade é tida como imutável, um canal de separação com o passado.
A imagem dos futuristas e seus sonhos de tecnologia moderna para a criação de um mundo novo também são citados por Marshall Berman na introdução do livro, e citações como “guerra, a única higiene do mundo” de 1914 são lembradas. Em seu namoro com as máquinas e a separação cada vez maior do ser humano, após a Primeira Guerra Mundial e a Segunda Guerra Mundial a força da ciência e da tecnologia sustenta os modelos de modernização. O que se tem agora então é a tecnologia condicionando a vida do homem, tecnologia esse que foi criada pelo próprio homem com o objetivo de facilitar sua vida compreendendo “seu destino” e combatendo-o (página 39).
A visão que surge do século XX, segundo Berman, é composta pelos chamados “homem-massa” (página 40). Essas massas não possuem identidade ou personalidade, suas idéias e problemas não são deles mas são programadas através de um controle maior que tem como função exatamente produzir os desejos que o sistema social é capaz de satisfazer. Surgem então massas perdidas no próprio ego e ocupadas em suas preocupações como carro, casa, roupas... Segundo Berman, a frase do mundo moderno é “a modernidade é constituída por suas máquinas, das quais os homens e mulheres modernos não passam de reproduções mecânicas”.
A partir dos anos de 1960, Marshall Berman divide o modernismo em três tendências a partir de suas atitudes com relação a vida moderna. São elas:

· Afirmativo: Desenvolvida nos anos 1960, tem como objetivo “despertar para a verdadeira vida de que vivemos” (página 44). Essa visão afirmativa também se autodesigna de “pós-modernista”. Utilizou sua capacidade imaginativa em seus objetivos, porém se esqueceu do seu lado crítico ao não esclarecer os limites do artista moderno em ver o mundo;
· Negativo: Segundo Berman, esse estilo busca a destruição dos valores existentes na sociedade, porém não se preocupa em reconstruí-los;
· Ausente: Para esse grupo, a única preocupação da arte modernista deveria ser com a própria arte. Segundo Berman então o modernismo tornar-se-ia a procura de uma “arte-objeto pura” (página 42). Esse tipo de arte porém não se enraizou, pois é condenada a morte o tipo de arte que não possui sentimentos pessoais.

Segundo Berman, existiram tentativas de criação de um mundo estruturalista e que esquecesse questões sobre auto-identidade, bem como também existiram aqueles que adotaram o pós-modernismo que cultivava a ignorância da história e da cultura para expressar-se através de sentimentos humanos. Ainda nesse sentido, também existiram os cientistas sociais que, ao tentarem construir um modelo de modernidade, acabaram por isolar componentes de modernidade como industrialização, construção, urbanização...
O auge do problema da modernidade surgiu nos anos 1970, com a destruição do espaço público e o surgimento de grupos menores ligados por interesses privados. Segundo Marshall Berman, Michel Foucault foi o único escritor da década passada que realmente fez algo sobre a modernidade. Segundo Foucault, não é possível a idéia de liberdade para a humanidade moderna. O sentimento de cárcere que Foucault apresenta tenta exprimir a sociedade moderna para tentar explicar através da história “o sentimento de passividade e desesperança que tomou conta de tantos de nós nos anos 1970” (página 47).
Para terminar a introdução de seu livro, Marshall Berman termina colocando a necessidade da volta ao passado em busca das raízes da modernidade, local onde tudo começou, para então crescer de forma saudável. Ele afirma ainda a necessidade de uma busca em grupo, com o público, o que leva ao conhecimento e conseqüente respeito às diferenças.